30/01/2008

O mito da chamada "individualidade"

É muito comum, ao se criticar a natureza feminina em geral, principalmente no tocante ao comportamento da mulher numa relação, muitas mulheres e até mesmo certos homens com pendor feminista sempre vindo com o mesmo tipo de argumento que invoca a tão chamada individualidade: estes alegam que existem "mulheres e mulheres", que "não se pode generalizar", que "cada pessoa é unica e individual", dentre outros semelhantes.Pois bem, mas nada há mais falso que isso, onde tal espécie de argumentação não passa de um sofisma definido por uma hipocrisia moral, que é determinado pelo meio em que estamos integrados, e o qual quer nos fazer crer que somos de fato seres únicos e individuais, quando na verdade sempre acabamos sendo induzidos a agir de acordo com a coletividade. Assim como eles nos dão a falsa idéia de que somos realmente livres e que possuímos o direito de escolha, principalmente no tocante a nossa pessoa. Mas se analisado isso de uma forma mais profunda e precisa, verá o que de real se esconde por detrás desse mito todo a que nos fizeram acreditar até então, e que tomamos como verdade incondicional.E eis que aqui lhes digo o porquê:
Geralmente o meio em questão a que nos relacionamos acaba nos educando e condicionando-nos a seguir determinada tendência de atitude e comportamento, na medida em que o ambiente acaba nos impondo uma limitação muito grande de perspectiva, esta sendo bastante restrita, onde a nossa possibilidade de escolha acaba se tornando por demasiado ínfima, de modo que acaba condicionando nosso intelecto a se tornar dependente e subordinado desse meio. E de igual modo se sucede à nossa intuição sensível e nossos sentimentos, de onde parte nossos conceitos e juízos de valor, os quais são determinados às pessoas precisamente pelo meio, de modo que os mesmos acabam sendo uniformes e comuns a todos, se constituindo quase uma unidade comum, no meio coletivo. E esses sentimentos são condicionados devido à limitação que ele faz daquilo que afeta nossa sensibilidade, visto que nossos sentimentos, principalmente aqueles de prazer e desprazer, se formam à medida em que somos afetados pelas coisas em geral, as quais, em relação com nossa natureza íntima, acabam definindo toda ordem de sentimentos que acabamos adquirindo conosco. E, dada a limitação do ambiente, na medida em que limita consideravelmente as coisas que nos afetam, e ainda, por meio de uma educação rigorosa, acaba nos direcionando a observar as coisas de um único e determinado modo, acaba sendo natural que o modo de apreciação com relação a elas acaba sendo uniforme, de modo que os sentimentos no geral acabam se tornando uma unidade comum e coletiva.
E, para assegurar sua posição de controle, o meio acaba impedindo que se utilize a razão quando se necessita tomar uma atitude deliberada a algo que não é possível se realizar instantaneamente, que requer certo pensamento e reflexão. O meio o faz como forma de evitar que a pessoa utilize seu pensamento naquilo que pode ser perigoso pensar de maneira errada. Mas esse conceito de "errado" é para o meio em questão, assim como "perigoso", onde o perigo reside ao mesmo meio, na medida em que acaba por perder poder e influência, se permitir que cada qual utilize da sua razão e aja conforme seu bel prazer. Todos esses fatores acabam conduzindo a uma formação de conceitos e juízos de valores uniformes, comuns a todos, sem muita diferenciação que possam distinguir uns aos outros, onde a invidualidade em si acaba sendo anulada, prevalecendo a coletividade nesse sentido, de modo que se pode concluir que há mais seres coletivos e submissos ao meio, e poucos seres individuais e que sejam realmente ativos enquanto indivíduos.
E na medida em que acaba condicionando às pessoas a essa uniformidade dos conceitos e juízos de valor, faz com que isso acabe também refletindo na apreciação por outra pessoa, a qual consideramos como ideal a mantermos uma relação: há toda uma educação maciça, por meio da cultura da mídia, ao homem valorizar a mulher cuja beleza é perfeita e vistosa, sem quaisquer falhas, tal qual uma Afrodite, e qualquer uma que demonstre não possuir tal beleza acaba sendo depreciada, por não corresponder a esse padrão de beleza. De igual modo, a educação e criação das garotas, desde sua infância, a sempre procurarem um parceiro que possa lhes conceder toda uma vida de regalias, educação esta consolidada pela mãe, e que acaba sendo arraigada à garota em questão, e a manifestação cultural romântica, que idealiza o "homem perfeito" como aquele tipo "seguro" e "protetor", e que não tem nenhuma fraqueza, a qual prevalece até os dias atuais na literatura, cinema e artes representativas em geral, fez com que as mulheres se apegassem a essa falsa abstração do "homem forte", de modo que um homem que demonstra possuir um ego real, com sentimentos, fraquezas e tudo mais, acaba sendo visto como um rascunho ou imperfeição do tipo "homem", sendo, em virtude disso, depreciado e colocado no mais baixo grau. E o "cafajeste" acaba tendo êxito com as mulheres precisamente por representarem bem esse ideal, o qual as mulheres se deixam encantar de todo, e se sentem de tal modo entorpecidas por essa visão que acabam tardiamente, somente mediante as más conseqüências, vendo a real índole desse sujeito.
Em suma, toda essa educação e imposição cultural, feita de forma coerciva pelo ambiente, acaba condicionando os sentimentos das pessoas a adquirem um certo tipo de apreciação comum por outra pessoa, na medida em que concebe para si um ideal do tipo perfeito de sua pessoa amada, este ideal que é determinado pelo ambiente em questão, com toda a limitação de perspectivas que ele impõe, assim como uma educação rigorosa que acaba nos guiando a um ponto comum nessa mesma limitação, de modo que nossos sentimentos, por estarem desse modo tão subordinados ao ambiente em questão, acabam se constituindo algo comum, uniforme e coletivo. Mas nada individual.Há sim, os tipos de pessoas que acabam fugindo a essa regra e atingindo outros graus de apreciação e sentimentos, assim como conceitos e juízos de valor mais individuais. Mas estes são os poucos que acabaram por transcender os limites impostos pelo meio, e por terem tornado sua perspectiva mais abrangente, indubitavelmente acabam sentindo as coisas de outra forma, e, conseqüentemente, pensando e julgando de outra forma. São as típicas "anomalias" no sistema ao qual estamos integrados, que são poucas.

Em suma: a individualidade é algo concedido a bem poucos, pela necessidade em que há de quebrar as limitações do ambiente, que a maior parte das pessoas estão condicionadas, onde se acaba de vez esse mito que há a respeito da individualidade, como se fosse uma coisa a que todos pudessem exercê-la, sem qualquer reserva. Desse modo, todos esses argumentos feministas que exaltam a individualidade de cada um acaba por perder a validade, se constituindo em algo puramente ilusório e capcioso, o que não é de se impressionar aos mais sensatos, visto que as mulheres sempre se utilizam de sofismas e toda espécie de hipocrisia moral para dar todo um suporte às suas idéias, mesmo que estas não estejam de acordo com a realidade em si, ou até mesmo estejam desprovidas de um mínimo de lógica racional, a que todo pensamento deve estar submetido.
Sem mais.

por Medici



Esse é um dos tópicos mais importantes e esclarecedores possíveis porque abrange a essência das relações humanas, do dominado e do dominador. Tudo parte da alienação, do conservadorismo, do pensamento binário (ou isso ou aquilo), do reducionismo a que somos condicionados pelo interesse de quem deseja manter a “ordem”. Seja no âmbito pessoal ou em comunidade, somos controlados com rótulos, dogmas, questões fechadas, ortodoxias, desconhecimento da verdade. Já disse Espinosa que não existe nada mais eficaz do que o medo, a superstição e a esperança para governar as massas. Daí advém o poder das instituições religiosas, do estado, da mídia, e, em última análise, de um ser humano sobre o outro.A reversão dessa realidade é praticamente impossível, já que esses condicionamentos são diversos, profundos, passados de uma geração para a outra e adotados como medida repressora. Quem consegue a prerrogativa de ver além dessa realidade ilusória, muitas vezes, é considerado um revolucionário, desordeiro, herege ou mesmo um tolo, tamanha a cegueira da maioria. Esses poucos que alcançam sua individualidade são tidos como “erros” do processo.

Concluo com essa frase de Bertrand Russell:"Homens nascem ignorantes, não estúpidos. Eles se tornam estúpidos por educação."

por Ana

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